Hoje eu posso comprar camaro e ter panicats. E aí?

Hoje eu me lembrei, voltando pra casa, de como anos atrás eu ficava caminhando calmamente e pensativo pro bar do meu amigo revisando mentalmente meu patrimônio. Eu Ficava pensando na cabeça “uau, tenho 30.000 de patrimônio, que foda!”. Olhando na minha planilha da patrimônio, em novembro de 2010, exatamente 5 anos e 1 mês atrás, eu tinha esses 30.000 reais.

Naquela época pensava direto em Camaro e pode ter 8 panicats por mês, 2 pra cada semana, ou seja, aquelas cavalonas que atendem em flat que QUALQUER homem no planeta ficaria louco de ter. Mas parecia um sonho distante, muito distante. Lembro que naquele tempo eu já não aguentava o emprego da época e pensava que não ia aguentar aquela vida de privações e violências mentais horripilantes. Ter 350 mil reais? Impensável! Eu não conseguia nem ver se eu aguentaria aportar no ano seguinte.

Hoje, depois de todo esse tempo eu multipliquei por 12 vezes esse valor. Eu sofri coisas terríveis psicológicas como all in em uma ação, sacrifícios mentais de lazer, horários terríveis no trabalho, roupas obsoletas, desejos consumistas não atendidos. As inúmeras e incontáveis noites de sexta e sábado me afogando em Vodka Natasha e cerveja barata, ouvindo e vendo clipes musicais românticos na pequena tela do meu notebook fudido da época, lágrimas que derrubava, horas na janela olhando as pessoas indo pra balada, casais passando de carro com a mulher com vestido preto curto pronta pra dançar rebolando no pau do namorado. Noites de domingo de desespero, de ansiedade, de medo, de vontade de me demitir. Já várias vezes cheguei do trabalho pra chorar no chuveiro, já me peguei vestido pronto pra ir trabalhar de manhã, sentar na cama de novo e colocar as mãos no rosto e dizer pra mim mesmo “Não aguento mais, não aguento” e tentar chorar e não conseguir.

E agora me bateu esse estalo lembrando de tudo isso ao ver que hoje, nesse momento eu consigo comprar um Camaro. Um Camaro 2015 custa 231.000 reais por aí usado. Um 2011, meros 120 a 140 mil. Hoje eu posso ir na loja e sair dirigindo um Camaro, um dos maiores símbolos do meu blog. Não quero discutir carro aqui, que ele é caro, cheio de imposto, que nos EUA pagam 1,99 dólares, nem que tem BMW melhor. O Camaro pelo design e pela fama, é dos mais poderosos veículos do país e não é porque você gosta de ser do contra que vai mudar isso.

Hoje, eu posso comer 8 panicats por mês, até mais. Ao custo do aporte ou dos rendimentos da minha renda fixa, mas posso, sem mexer no meu dinheiro investido total ou com meu próprio salário. Eu poderia comer mulheres que jamais 99,9% dos homens da humanidade comerão. E não só isso, eu comeria tais mulheres 8 a 12 vezes por mês. É como se você fizesse sexo com atrizes pornôs e ultra gostosas incríveis a hora que quisesse, quase como um harém.

Mas se eu posso realizar o sonho do Camaro e posso comer tais panicats, porque eu não pareço mais feliz, mais aliviado, mais realizado por poder ter o poder e capacidade de fazer isso?

A resposta eu preciso encontrar na minha psicologia, na minha personalidade e na lógica econômica.

Apesar de ter o poder e capacidade de realizar estes dois sonhos simbólicos a minha psicologia não se sentiria bem após tê-los pois isto significaria perder parte dos meus 350 mil e saber que pra recuperar eu teria problemas dando fim no meu principal objetivo que é o milhão e a semi/total independência financeira. Minha personalidade não gosta de coisas não sustentáveis. O que é isso? Eu gosto de coisas contínuas não gosto de coisas que eu faço uma vez e depois não posso fazer de novo. Camaro e panicats eu não consigo sustentar ainda. Posso tê-los mas seriam coisas que me jogariam pra baixo no médio e longo prazo e os perderia eventualmente e não gosto do que não posso sustentar ou continuar.

Finalmente a lógica econômica é muito clara. 350 menos os 150 de um camaro usado é igual a 200 mil. Meus rendimentos cairiam muito e meu emprego não é sustentável no longo prazo. Meu aporte cairia muito pra sustentar tantas putas e os custos do Camaro e ainda morar sozinho. Se eu perdesse o emprego ou o plano FGTS desse certo eu estaria em apuros. Se eu fosse funça com salário atual meu, ou seja, tivesse estabilidade, seria relativamente tranquilo manter melhor no médio prazo tal situação mas mesmo assim no longo prazo eu estaria arriscando demais pois se eu não tivesse reposição salarial decente, em 5 anos eu estaria na merda de novo.

Mas você quer saber? Esse estalo que tive meu deixou feliz sim. Algo que parecia tão longe, tão impossível, está ao meu alcance e até de forma fácil. Ter essa opção e poder me deixam com uma sensação muito boa. É importante isso pois são tantos sacríficios, é tão contra a manada geral da população mundial de jumentos poupar, sonhar em parar de trabalhar, sonhar em ser milionário, em aportar, de tentar ser alguém melhor que você parar um pouco pra dar uma olhada na sua jornada, dar uma olhada no que já passou e onde está é realmente muito, muito legal.

Finalmente, também faz a gente pensar de como nossos desejos materiais não são nada perto do que realmente vale pro ser humano que é ter paz, tranquilidade, segurança financeira e tempo pra viver. Camaros e panicats, são legais, são símbolos mas eles não vencem ter uma vida tranquila com tempo pra si mesmo. E isso só a verdadeira IF poderá trazer.

Assim, nessa volta do trabalho ao pensar nisso que contei a vocês, pude por alguns minutos me sentir bem e esboçar um sorriso. Que um dia nessa caminhada eu possa pensar “uau, tenho 1 milhão de patrimônio, que foda!”.

Forte abraço!